Hashtag… partiu banheiro; # partiu trabalho; # partiu chácara; # partiu
Santarém, hashtag isso, hashtag aquilo, blá blá blá. É desse modo que um grande
número de pessoas se entrega à bandidagem feito patinhos, facilitando a vida e
diminuindo o trabalho dos delinquentes, dizendo onde estão, ou para onde estão
indo.
A necessidade de cinco minutos de fama faz com que toda e qualquer precaução
seja deixada de lado. A própria segurança pessoal ou familiar é relegada a
segundo plano em nome da necessidade de se comunicar, ou, talvez seja mais
correto afirmar, a premência em aparecer, pois quase todo mundo quer ser
notado.
Um fato do qual tomei ciência pela internet levou-me a escrever este artigo,
que tem por finalidade despertar a atenção dos leitores, de modo especial,
daqueles que costumam se expor demasiadamente. É uma história da vida real,
tipo milhares de outras que acontecem no dia a dia, e que já nem causam mais
tanto alarde por ter virado mais um ingrediente a mais no cardápio da violência
no Brasil.
Jackson
telefonou para um amigo, avisando que iria até a casa dele, pois tinha um
assunto urgente para tratar. Passava de 8:00 da noite. Até aí, nada de mais,
não fosse pelo detalhe de ter colocado no Facebook: # partindo casa de
Pedrinho. Logo no famoso Face, onde milhares de pessoas podem ver a mensagem ao
mesmo tempo, dependendo do número de amigos.
Sabendo que Jackson costumava não se separar, nunca, de seu aparelho celular,
caro, e mais um belo cordão de ouro, dois vagabundos que o conheciam e sabiam
para onde ele iria, anteciparam-se, aguardando-o em um local ermo e escuro,
condições que tornariam mais fáceis a ação dos dois.
Por volta de 8:40 da noite, Jackson apareceu, sendo surpreendido pelos dois
criminosos, que anunciaram o assalto. Felizmente, ele teve juízo suficiente
para não reagir, entregando o celular, o relógio e o cordão de ouro, sem olhar
para trás, obedecendo às ordens dos assaltantes, que determinaram que de modo
algum olhasse.
Algumas horas depois do ocorrido, quando o susto maior já havia passado, mesmo
lamentando o prejuízo material, ele começou a conjecturar como e porque aqueles
dois criminosos estavam exatamente naquele lugar, exatamente na hora em que ele
iria passar. Fez uma pergunta para si mesmo, na esperança de obter uma
resposta: não foi muita coincidência, isso que aconteceu comigo? Estranho, não
é?
Enquanto pensava no assalto do qual havia sido vítima, Jackson teve um estalo:
fui eu! Fui eu quem informou aos bandidos onde eu estaria àquela hora! Eu
facilitei o “trabalho” deles, eu me entreguei de mão beijada nos braços deles!
Como eu sou idiota, meu Deus! Como posso postar no Face e no Zap, tudo que faço
e o que ainda vou fazer?!!!
Depois desse episódio, Jackson reviu seus conceitos sobre a utilização das
redes socais, mudando radicalmente o seu comportamento. Continuou usando as que
já usava, mas, para postar informações mais úteis, ou para ter acesso a
notícias que de alguma forma contribuíssem para melhorá-lo como ser humano,
acrescentando-lhe algo a mais.
As redes sociais estão mudando radicalmente a maneira do mundo se comunicar.
Não se imagina, nos países onde há liberdade de comunicação, que uma
pessoa não possua um aparelho celular pelo qual pode navegar à vontade para
quase todos os lugares, explorando todo tipo de assunto. E o problema não está
nessa facilidade, mas, no que se faz com ela, pois como quase tudo na vida tem
o lado bom e o lado ruim, nas redes sociais a gente pode se comunicar, para o
bem, ou para o mal. Nesse caso, eu e você, leitor, podemos estar do lado do
bem, como estamos, mas, também podemos dar uma forcinha para o mal, passando
para a bandidagem tudo que eles precisam saber sobre nós e sobre os nossos
hábitos.
Como
disse no começo do artigo, podemos nos entregar de bandeja nas mãos de
criminosos, se não tomarmos muito cuidado com o que escrevemos nas redes
sociais a nosso respeito. Por isso, da próxima vez que for fazer algo que diga
respeito à sua vida, pense bem, antes de publicar: # partiu para…
Marilene Parente é bacharel em Direito pela Universidade do Grande ABC, Santo
André/SP
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